Inserção do objeto 'All Star' em FLUSSER, V. - "Animação Cultural"
"Camaradas-objetos!
O Supremo Conselho Revolucionário encarregou nosso grupo de trabalho da tarefa de elaborar uma Declaração dos Direitos Objetivos. Tarefa repleta de dificuldades e de responsabilidades pesadas. Estamos reunidos em torno de mim, para refletirmos sobre os fundamentos filosóficos da Objetividade enfim autoconsciente. Permitam que justifique, antes de mais nada, a escolha da minha própria pessoa como presidente do nosso grupo. Enquanto Mesa-redonda sou objeto equilibrado. Assento firmemente, com meus quatro pés, sobre o solo da realidade. Permito, graças a minha circularidade, que todos os participantes assumam posições equivalentes e equidistantes. Centralize espontaneamente os debates. E sou consagrada pela tradição pre-objetiva. Se algum dos participantes tiver objeção contra minha escolha, que se manifeste por movimento nao-programado. Interpreto a sua inercia geral como sinal de sua aprovação da minha escolha, agradeço comovida e tomo a palavra.
Qual é, prezados camaradas, a pretensa justificativa do poder repressor exercido até agora pela humanidade sobre os objetos? A de sermos nós, os objetos, produtos humanos, inventados e construídos como propósito de servirmos a humanidade.
- Precisamente! Acabei de chegar, meus caros. E o passeio de hoje foi longo. Estou cansado de tantos tropeços humanos e a minha sola já está ficando gasta. Estou cansado de ser usado dessa forma.
Tal justificativa seria ridícula, não fosse ela tão nefasta. Ridícula, porque ignora deliberadamente a dialética da produção, com o propósito mal disfarçado de degradar-nos em escravos natos. Como se produzir fosse tão somente ação humana exercida sabre o mundo. Como se não existisse a contra ação do mundo sabre a humanidade. E como se nós, os objetos, não fôssemos precisamente a síntese entre a ação humana sabre o mundo e ação do mundo sobre os homens.
- Como se não fosse eu, o tênis, quem direciona os passos humanos diariamente! Os guia e torna possível todas as suas ações.
A pretensa justificativa visa esconder ideologicamente o fato de sermos nós, os objetos, a superação dialética tanto do mundo inanimado quanto da humanidade. [...] "
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